Fernando Ernesto Baggio
FERNANDO ERNESTO BAGGIO
(Rio Grande do Sul, Brasil - 1981 - )

 
Autor del libro de poesías "Bolhas de sabão e um punhado de sementes", publicado en 2011, en Brasil, por la Editora Ixtlan.

- Autor de la narrativa "Fragmentar e Reconstruir Contextos", publicada en Portugal, en 2009, por la Corpos Editora.

- Autor de la narrativa "Delírios de um plagiador", publicada en 2006 por el Instituto Estadual do Livro do Rio Grande do Sul.
- Participó de la "Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos"(2007), publicada por la Câmara Brasileira de Jovens Escritores.

- Participó de las Antologías "Histórias de trabalho", de 2006, 2008 y 2011, y de la "Poemas no Ônibus" (2008), publicadas por la Secretaria de Cultura de Porto Alegre.

- Vencedor del Premio Coleção 2000/Caixa-RS de Literatura (2006), por la narrativa "Delírios de um plagiador".
- Vencedor del Premio Teixieira e Souza de Literatura de 2007, en la categoria cuentos.

- Un cuento suyo fue traducido al rumano, para la revista Cuvântul de diciembre de 2008. www.cuvantul.ro/static/pdf/378.pdf

- Fue integrante del jurado calificador del Prêmio Portugal Telecom de Literatura - 2009.

- Tiene textos y fotografías publicados en las revistas Caros Amigos, Varanda Cultural, Eco 21 y en varios periódicos en América del Sur y Portugal, como Página 20 (Acre), Para-í-be-a-bá, A Crítica de Rondônia, Zero Hora, Sur de Minas, de noticias (Joinville), América Latina en Movimiento, A Voz de Ermesinde, O Ribatejo, Jornal Defesa e Relações Internacionais, Jornal das Freguesias, entre otros. Fue, entre 2007 y 2009, columnista del periódico Tribuna das Cidades, con sede en la ciudad de Cruz Alta (Brasil).

 
UN CONCOMITANTE ENSIMESMADO

Un concomitante ensimesmado
hecho con acero y concreto armado
redondeó las arestas de la racionalidad humana
y concurrió con el punto de fuga
convergindo así para su próprio denominador común.
Discordó del relativismo cubista,
donde hasta los más distantes son protagonistas.
Edificó las redundáncias del mundo retilíneo
reflorestando el campo gramatical con puntos suspensivos
todos iguales, hasta el infinito
originando así la dúvida,
en la ausencia de los puntos de exclamación:
el mundo hoy sufre de urbanismo crónico o de urbanite aguda?


MANIFIESTO

el ejército de las burbujas sin jabón
exige la estatización
de todas las fábricas de jabones líricos
y detergentes poéticos
además de la urgente realización
de una reforma agraria de los campos semánticos
caso contrario, aguarden la retaliación
ataremos la línea narrativa en el viento
y cortaremos las raíces morfológicas
de las  palabras sin ambición


CUENTO METALITERARIO

Certa vez estava descendo um morro na zona sul de Porto Alegre quando deparei com um imenso cacto rodeado por figuras abstratas esculpidas em mármore, no jardim de uma casa. No portão de entrada, um senhor de cabelos brancos conversava com uma moça muito formosa. Quase sem pensar, aproximei-me dizendo:
- Xico?!
Talvez pudesse ser o escultor austríaco radicado desde 1954 em Porto Alegre, Francisco Stockinger, sobre quem eu já havia lido várias reportagens contando que suas principais paixões eram os cactos e a escultura.
- Sim, é o Xico!”, respondeu a moça.
Apertei a mão do mitológico escultor e berrei, entusiasmado:
- Somos todos Gabirus de bronze?
- Menos eu, que imortalizei meu rosto nas esculturas da série Guerreiros. Quanto a ti, podes ser o que tu quiseres. Gabiru eu não aconselho, mas gosto não se discute...
- Xico, o senhor se importaria de esculpir um poema do Manoel de Barros? Aquele: “Uma violeta me pensou. Me encostei no azul de sua tarde.”?
Xico pareceu ter adorado a idéia, pois me convidou para entrar e conhecer a sua casa. Entre vários quadros de Iberê Camargo e esculturas de Vasco Prado, havia uma varanda repleta de bonsais. Cansado dos cactos, o mestre agora passou a cultivar bonsai.
- Comprei uma corneta!”, disse-me Xico, exibindo o antigo instrumento.
O escultor buzinou sua corneta e apontou para uma escultura em granito:
- Efêmeros, passamos voando pela vida daquela pedra, feito borboleta.
- E quanto a Iberê, que povoou nosso inconsciente com carretéis de tinta?
Xico ignorou minha pergunta e nada respondeu. Apenas ficou a me olhar. Prossegui:
- E o que dizer dos rios que atravessam os nossos apartamentos, entrando pela torneira e saindo muito mais sujos pelo ralo?
Antes que o escultor respondesse, a formosa moça berrou:
- Cale-se! Essas tuas indagações gratuitas são apenas vaidades que trepam em árvores! Desça daí, rapaz! De que adianta olhares para o mundo daí de cima, se tu não passas de um tango com pernas! Além do mais, é absurda essa idéia de topografar a paisagem semântica dos contos para depois promover a sua pavimentação lingüística e o loteamento morfossintático! Sem falar nestes filhotes de inconstância que insistes em endeusar...
- Não te agradam os filhotes de inconstância?”, perguntei, estupefato.
- Não muito. Os que não são prolixos e displicentes parecem-me meio abobados.
Quando fui lhe mostrar os lindos filhotes de inconstância que moram na cumbuca de barro que trago sempre junto comigo, fomos interrompidos pelos gritos de dona Ieda, a mulher de Xico:
- Um bando de cangaceiros semânticos acabou de chegar na cidade! Pelo que ouvi eles estão promovendo uma desordem gramatical na literatura pós-moderna. Fuja enquanto há tempo, Tango com Pernas! Suba agora em sua bicicleta ortográfica e vá depressa até a fazenda do poeta Manoel de Barros, no Pantanal!
- Leve este punhado de sintaxes difusas para Manoel e diga que lhe mandei um abraço!”, disse-me o escultor.
Vibrei por alguns instantes na mesma freqüência de dona Ieda, e depois parti surfando nas ondas sócio-cinéticas que emanavam daquele tal contexto histórico.
Pedalei, pedalei e pedalei. Não necessariamente nesta ordem. Na entrada do Pantanal aluguei um pequeno barco para chegar até a fazenda de Manoel de Barros. Após três dias subindo o rio Paraguai, avistei o poeta.
- Olá Manoel! Que estás a fazer?”, perguntei.
- Olá Tango com Pernas! Eu estava me perguntando porque diabos a sua viagem de Porto Alegre até aqui durou apenas um parágrafo de duas linhas e meia!? Não há nenhuma descrição das especificidades do Cerrado, nem referências líricas quanto à beleza do Pantanal. Ainda mais você, que se orgulha de carregar o estandarte da geografia poética!
- É que esta nossa estória é um conto, Manoel! E contos são curtos! São espasmos literários! Não há mais espaço para devaneios poéticos desprovidos de objetividade! A pós-modernidade expropriou e arrendou o espaço lírico, e agora há nele uma monocultura de soja transgênica, ou outro empreendimento utilitarista qualquer.
- Ora, ora... Vai dizer que comprar uma fantasia de bailarina para sua filha é o mesmo que matriculá-la numa aula de dança!
- Tens razão, poeta Manoel. Nas metrópoles as raízes culturais estão plantadas em rasos potes de flor. Inclusive há humanos que se afogam na superficialidade ordinária das tardes cinza.
Percebi que o poeta introverteu-se quando falei das tardes cinzas, e respeitei a sua confortante solidão. Enquanto aguardava suas reflexões, aproveitei para fagocitar os fecundos nódulos literários que habitavam as redundâncias dos seres ordinários e dobradiços. Os pintei todos de amarelo e depois pensei em pensar sobre isso, mas acabei perdendo-me em divagações.
- Estou achando você um tanto sustenido hoje, Tango com Pernas! Alegra-me vê-lo assim, um semitom mais alto!
- Manoel, eu adoro aquele teu poema: “A sensatez me absurda. Os delírios verbais me terapeutam... As antíteses congraçam.”.
- Fico feliz que goste dele. E fico muito mais feliz por saber que o canto do surucuá não tem as três arestas que o canto do cubo tem. Cada canto tem seu próprio encantamento, e cada vértice a sua vertigem. Contudo, há algo que muito me intriga: Tango com Pernas, o que é este imenso embrulho amarrado em seu pescoço?
- Obrigado por avisar-me, Manoel! Já nem lembrava mais deste embrulho com as sintaxes difusas que Xico Stockinger mandou de presente para o senhor!
- Quanta gentileza! Eu adoro sintaxes difusas! Com feijão e detergente fica muito saboroso!
Nesse momento esqueci de tudo o que havia vivido até então. Só recordava de algumas cenas de infância, numa pequena aldeia kaingang, a beira de um riacho. Havia muitas árvores frutíferas por perto, especialmente mirtáceas. Estávamos colhendo pinhão, enquanto alguns micos-prego saltitavam ao redor. A tribo toda comentava sobre o kiki, o ritual aos mortos. A sociedade kaingang divide-se em dois clãs: kamé e kañerú. É semelhante ao dualismo taoísta simbolizado pelo yin e yang. Sou kañerú, minha pinta é redonda. Recordei que durante o kiki nos embriagávamos com uma bebida de mel fermentado de abelha jataí. Recordei de que morávamos em casas subterrâneas e nos alimentávamos basicamente do fruto da araucária. E, de tanto recordar, acabei por não perceber o cachorro do poeta Manoel, que estava mordendo minha perna há uns quinze minutos. Enquanto eu me livrava de seu cachorro, Manoel interjeitou-se:
- Talvez a função de um conto pós-moderno no mundo contemporâneo seja resgatar os pilares éticos renascentistas, que por sua vez resgataram os pilares éticos da Grécia Antiga, que por sua vez resgataram os pilares éticos de outrem, que por sua vez... De tempos em tempos a humanidade necessita reconstruir seu padrão de beleza, visto que cada vez mais a ciência vai desconstruindo as crenças primitivas dos narcisos filhos do carbono, e o certo e o errado clerical vão fundindo-se em infinitas possibilidades. Podemos estar vivenciando um momento semelhante ao final da Idade Média, conhecido também como Idade das Trevas, onde tudo era permitido e bem aceito. A humanidade apodreceu! E depois de podre, fermentou! E é ela quem produz essa acidez no inconsciente coletivo. Por sorte a acidez é o mais perfeito remédio para esta realidade básica em que vivemos. O anti-herói é um mal necessário. Sobretudo para nós, romanos, que se encontrássemos um novo Cristo, maltrapilho dormindo na porta de nossa casa, chamaríamos a polícia.
Interrompi Manoel mordendo a sua perna, retribuindo assim a gentileza de seu cachorro. Feliz, o poeta agradeceu e sentou-se no ventre sintático deste conto. Após algumas horas calados, decidimos então vagar pelo bosque ao lado do quilombo dos adjuntos insurgentes. Trepamos na palavra pós-moderno, rompemos o seu hífen e podamos sua raiz morfológica. Mesmo agora, com essa urbanite crônica que a humanidade contraiu, ainda há poesia nas metrópoles. E como se chamará o movimento cultural precedido pelo pós-modernismo? Neo-pós-modernismo? Confesso que estou um tanto confuso. Ainda mais eu, um mero torcedor do Nacional, de Montevideo, que adora assistir peças de teatro e acampar perto de cachoeiras. Mesmo assim, perguntei:
- Mestre, qual é o contrário de esculpir um poema?
Prontamente o poeta apedrejou o entardecer de um predicado oblíquo, e disse:
- Embora eu não tenha profundidade para episódios, crio o cenário necessário para qualquer contexto. Portanto, contente-se em aprender o Pantanal! Há mais poesia nele do que nesses amontoados de palavras que superlotam o cotidiano.
- Obrigado, poeta Manoel! Eu adoro respostas reticentes... Tenho só mais uma pergunta: um conto pós-moderno deve ter quantas páginas?
- Algumas.
Despedi-me do grande poeta e fui conhecer o Pantanal, conforme sugeriu Manoel de Barros. Caminhei pelas ruas com água até os joelhos. Atravessei o rio Paraguai a nado, e perambulei pelos vilarejos adjacentes de Cochabamba. Subi de costas a Cordilheira dos Andes e banhei-me no Lago Titicaca. Desci a Cordilheira com os olhos fechados, num piscar de olhos. Não foi tão difícil, exceto quando meu pequeno defeito de nascença latejava. É que tenho o tornozelo esquerdo grudado na orelha direita. Mas nada que muito me incomode.
Foi então que lembrei do churrasco que havia combinado de fazer com Xico Stockinger, bem neste exato instante do conto. Tomei um trem rumo à Argentina e adentrei os Pampas. Já me sentindo em casa, deitei na rede e ruminei alguns termos convenientes até dormir. Sonhei que as citações rebelavam-se contra a burocracia gramatical, e libertavam-se das referências literárias. Tudo já havia sido dito, repetido, recitado e negado, inclusive esta afirmação.
Acordei e fui até o atelier do escultor, às margens do lago Guaíba. Xico estava talhando um bloco de granito e ouvindo um vinil de um famoso cornetista uruguaio.
- Xico, sabia que se cortares a coroa de um abacaxi e a plantares na terra, crescerá ali uma bromélia? Em um ano comerás outro abacaxi, cuja coroa também plantarás, e então no próximo ano terás dois abacaxis.  No terceiro ano serão quatro abacaxis, no quarto ano, oito, e assim sucessivamente.
- Desculpe, senhor descendente de kaingangs, não ouvi nada! É que sou completamente surdo.
- Surdo por opção ou por biologia?
- Podes falar o quanto quiseres. Não me importo! Não ouço nada mesmo!
- Magnífico! Estou monologando com um dos maiores escultores da nossa história, sem que qualquer diálogo nos homogenize!  É a expressão máxima da incomunicabilidade! Que belo exemplo de anarquia gramatical!
Xico continuou a talhar o bloco de granito, e eu, ao seu lado, falando sozinho. Vi-me tentando fisgar lambaris esculpidos em mármore lingüístico, que se exclamavam ao nosso redor. As pedras embebedaram-se de pássaros, e o musgo recobriu o verde do campo semântico. Na verdade não há evidência alguma de que este mundo seja real, exceto Gal Costa cantando: “Quem vai querer comprar banana?”. Talvez este não seja um conto pós-moderno, e sim um conto surreal ou feérico. Mas então o que falar dos protagonistas dos contos clássicos, que se enrolam em panos coloridos, tingem suas unhas e seus pelos, e artificializam o seu cheiro? Surreal é a própria realidade humana!
- E quanto à formiga que vive trancada no pote de mel?”, perguntei olhando fixamente nos olhos do escultor. Articulei bem a boca ao berrar, pra ver se Xico entendia.
- A formiga?”, retrucou ele.
- Sim, a formiga que habita o pote de mel. Ela respira por um pequeno orifício entre a tampa e o pote. Vive a caminhar sobre mel. Dorme em cima daquilo que toda formiga deseja. Come mel o dia inteiro, sem esforço nenhum. Entretanto não é livre. A formiga vive sozinha no paraíso terreno. Tem tudo o que sempre sonhou, mas não pode repartir nada com ninguém.
- Veja poeticamente: Trancafiada numa formosa forma com formato formidável, entre favos de mel vive a formiga viciada em cacofonia. Se realmente sábios existem, eu sou o oposto deles. Sou vazio, nada tenho a dizer. Apenas brinco com as palavras, arejando a linguagem. Sou uma minhoca lingüística viciada em despropósitos semânticos. Vários nortes espontâneos surgem e desaparecem no meu universo, como buracos negros e brancos, inspirando e expirando novas realidades.
Repentinamente comecei a tossir, interrompendo o discurso do escultor. Era uma tosse forte, sintoma de algum grave problema de saúde. Preocupado, Xico falou:
- Não queres um cigarro ou um charuto? Ou talvez um baseado?
- Aceito sim. Obrigado pelo carinho! Também me preocupo com o bem estar do senhor!
- Ora, Tango com Pernas, deixe de bobagem e finalize logo este conto! Não sabemos quanto tempo mais nos resta!
- E como termina um conto pós-moderno, mestre Xico?
- Se lhe apetecer posso atirar uma sintaxe difusa na sua cabeça! E caso você ainda continue respirando, lhe cravo um sintagma lexical no coração!
- Me parece uma boa idéia. Pode ser agora?
- Por mim tudo bem. Assim você desiste dessa estória de escrever contos. Desculpa a sinceridade, mas você não leva jeito pra isso, Tango com Pernas!
- Bom, então... até mais.
- Até mais.


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¡UNA OBRA DE COLECCIÓN!
 

Título: Metapoesía
Autor: J. Lallemant
ISBN: 978-1725512801
Páginas: 82
Disponible en: Amazon
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